COREIA DO NORTE, PROGRAMA NUCLEAR & BALÍSTICO, TENSÕES NO LESTE ASIÁTICO: impressões da palestra

Por Adermes Júnior*, 

Depois de exibir um vídeo propaganda exaltando os últimos feitos do governo, boa parte dos quais eu ainda não tinha conhecimento, como a inauguração de uma hidrelétrica aparentemente no lago do monte Paektu, o embaixador demonstrou que a posição norte-coreana é taxativa: “o nossos programas nuclear e balístico, desenvolvidos para responder às crescentes provocações americanas que, ano após ano, simulam uma invasão à Coreia Popular, junto aos sul-coreanos durante os exercícios militares, não serão objeto de negociação”, informou o Embaixador e Plenipotenciário da República Popular Democrática da Coreia no Brasil Kim Chol Hak, em Salvador, Bahia.

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Demonstração militar norte-coreana e seu arsenal nuclear.

De acordo com os embaixadores, a Coreia do Norte iniciou seu programa nuclear na década de noventa para fins pacíficos. A escassez de recursos naturais e o território diminuto eram um entrave à segurança energética de sua economia. Foi lembrado que a comunidade internacional, à época, reagiu bravamente exigindo que o país suspendesse suas atividades.

Na ocasião, o desenvolvimento de um parque energético nuclear estava sim à disposição do diálogo e poderia ser uma moeda de troca. Os EUA, então, se comprometeram a construir hidrelétricas que pudessem substituir as usinas nucleares. No entanto, as obras foram suspensas depois de alguns anos e os dirigentes de Pyongyang decidiram retomar o projeto nuclear.

Vale ressaltar que os exercícios militares conjuntos EUA-Coreia do Sul continuaram a cada ano desde o fim da Guerra da Coreia (1950-1953), o que alimentou nos norte-coreanos uma espécie de corrida armamentista para defender sua soberania frente às provocações e ameaças de invasão.

O país não abrirá mão dos testes por mais duras que sejam as sanções da ONU. Dos anos 2000 pra cá, quando o país abandonou unilateralmente o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e iniciou os testes atômicos, houve um enorme salto qualitativo na tecnologia nuclear para fins pacíficos e bélicos que não podem ser revertidos e dos quais a nação não abdica. No ano de 2012, o país, inclusive, proclamou em sua constituição o status de “Estado nuclearmente armado e indomável potência militar”.

Mesmo a China e a Rússia não são incapazes de conter seu programa nuclear. O embaixador reiterou que a relação entre Coreia do Norte e China deixou de ser assimétrica. Nos novos tempos, a conversa se dá entre duas nações nucleares, o que para os norte-coreanos parece ser condição básica para que um país se imponha bilateral e multilateralmente no sistema internacional.

Basicamente, a Coreia do Norte continuará desenvolvendo armas e artefatos nucleares até o ponto em que seu arsenal seja capaz de dissuadir completamente qualquer possibilidade de invasão americana.

Em sua fala, houve um tom de lamento e o mesmo chegou a considerar uma “tragédia” o fato de a China rejeitar e condenar veementemente o programa nuclear de sua aliada histórica. O representante de Pyongyang no Brasil relembrou que, na década de cinquenta, quando Mao Zedong decidiu nuclearizar a China, o país sofreu equivalente resistência e oposição da comunidade internacional, inclusive da Rússia – então União Soviética, aliada ideológica e detentora de armas nucleares – que rejeitou transferir tecnologia e disse que o país deveria desenvolver de forma autônoma se assim o desejasse. Todavia, a Coreia do Norte havia sido o único país favorável ao desenvolvimento nuclear chinês.

Eu fiquei meio cabreiro porque o programa nuclear chinês remonta ao período da Guerra da Coreia e alguns livros dizem que temendo um embate atômico direto com os EUA na Península Coreana, Stalin relegara o papel de guarda-chuva nuclear à China que já estava em combate contra as tropas americanas, das Nações Unidas e da Coreia do Sul na guerra, concedendo-lhe algumas armas e tecnologias nucleares mais incipientes.

Durante as perguntas da plateia, o embaixador respondeu que a visão de democracia coreana destoa da perspectiva ocidental em razão da influência do pensamento de Confúcio arraigado na cultura local. Isso, no entanto, não significa que o país não seja democrático. A sucessão entre os Kim no poder, por exemplo, está de acordo com a ideologia da filosofia Juche. Eles foram eleitos por unanimidade porque atendem aos pré-requisitos para dirigir a Revolução Coreana, a saber: estão capacitados para o cargo; possuem habilidade política; e contam com o carisma da população porque amam seu povo.

Antes de encerrar abruptamente a palestra de uma maneira que surpreendeu até a

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Adermes Jr. e o Embaixador e Plenipotenciário da República Popular Democrática da Coreia no Brasil, Kim Chol Hak.

organização do evento, ao ser questionado sobre Direitos Humanos, bloqueio a conteúdos ocidentais e refugiados na Coreia do Sul, os representantes disseram que só filtram o que há de negativo na cultura ocidental, desconversou sobre Direitos Humanos e disse que para falar sobre a questão das políticas deliberadas dos governos sul-coreanos contra seu país seria necessário um espaço de tempo maior.

Dia 18 de setembro, o curso de Relações Internacionais da Unijorge, em Salvador, promoveu uma palestra sobre os programas nuclear e balístico da Coreia do Norte, que contou com a representação diplomática do país no Brasil.

 

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*Adermes Júnior é estudante de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador, e pesquisa as relações do Brasil com a China e a Coreia do Norte, integrando abordagens da Economia e Relações Internacionais. 

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