As manifestações verde-amarela e o Fascismo

Por Lucas Rocha

Nos últimos tempos, o Brasil tem sido palco de uma de suas maiores crises econômicas e políticas de sua história. Neste contexto, tem se verificado o crescimento de manifestações de cunho fascista, e o pior – a maior parte da população que incorpora tais ideias não está se dando conta disso!

O fascismo teve suas primeiras manifestações na Itália do começo do século XX com Benito Mussolini e também teve seu correspondente alemão, o nazismo – do Partido Nacional Socialismo Alemão, comandado por Adolf Hitler. Dentre vários elementos, o fascismo pode ser caracterizado por seu ultra-nacionalismo, militarismo e totalitarismo. O fascismo clássico também tendia a proclamar um líder que representasse essas características, que fosse o símbolo da ordem, do progresso, da justiça e que exaltasse a nação perante todos os seus inimigos e males.

Infelizmente, todas estas características têm estado presentes nas manifestações no Brasil nos últimos anos e têm ganhado espaço e novos adeptos na sociedade. As manifestações políticas no Brasil têm sido o resultado de uma das piores crises econômica e política da história brasileira, talvez a pior em decurso. Entretanto, sem adentrar nos detalhes políticos do cenário brasileiro, um fato tem sido cada vez mais observável: o fascismo está crescendo no Brasil.

As manifestações convocadas pela direita são os principais palcos onde se observa comportamentos fascistas: apropriação e exacerbação de símbolos nacionais tais como a bandeira, o Hino, as cores nacionais, os gestos de saudação militar – tudo feito por civis. O enaltecimento exagerado das corporações militares da polícia, do exército, marinha e aeronáutica, a crença no ideário de que a ordem militar estaria isenta de sujeira e corrupção e a consolidação da ideia totalitária de que as manifestações são apartidárias, ou seja, de que não há representação por partidos políticos.

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Saudação fascista em manifestação da [ultra] direita.

O partidarismo é um dos principais pilares de uma democracia. Simplesmente porque não há neutralidade política, não há opinião que não seja partidária (por mais que você afirme que não é de direita nem de esquerda – isso é uma objeção típica de quem é de direita), e simplesmente porque a democracia se firma no diálogo de partes discordantes em função de atingir um objetivo comum para todos. É pressuposto da democracia conviver com a pluralidade de ideias e de partidos (posições políticas). Ora, manifestações apartidárias são justamente a tentativa de construir um ambiente totalitário, unipartidário (com uma única ideia) e fascista!

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A intolerância no diálogo e a violência tem se tornado recorrentes nos protestos. A não aceitação da pluralidade de ideias é uma característica fascista e totalitária.

A violência tem se tornado recorrente. A falta de consciência coletiva tem sido uma das piores características, pois coloca em risco a vida de pessoas que simplesmente emitem um: “eu não concordo“. Isto já é motivo para espancamento e linchamento de um grupo ou uma multidão contra o ser destoante. Até mesmo uma roupa ou um acessório vermelho pode se tornar objeto perigoso por atrair a atenção deste “exército de zumbis verde-amarelo”, ainda que seja pura coincidência do destino.

O recente caso brasileiro se destoa, entretanto, do fascismo clássico por não ser (em termos) etnocentrado, ou seja, não há a “crença de uma superioridade racial” como em outrora. Nestas manifestações, brancos e negros compartilham do mesmo espaço e das mesmas motivações  – que são de ordem política e econômica geral.

O fascismo está intrinsecamente ligado com os ideais conservadores de ordem militar, fundamentado em uma falsa moral cristã. Dessa forma, os apoiadores deste movimento normalmente expõem pensamentos conservadores, remetendo à religião cristã o principal suporte para o que se considera o formato ideal de família, de homem, de mulher e de sociedade  (disseminando toda a sorte de ideias machistas, homofóbicas e racistas).

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Bolsonaro sendo prestigiado por um admirador de Adolf Hitler. Está claro o apreço de neonazistas e fascistas às ideias do deputado federal, atual pré-candidato à presidência.

Outro elemento comum no fascismo está associado à eleição de um líder único que represente todos esses símbolos ultranacionalistas e ideários de moral cristã conservadora. Homem forte, exemplo para a nação, símbolo de esperança e vigor para uma nação destroçada: Benito Mussolini (Itália) e Adolf Hitler (Alemanha). Atualmente, surge no cenário político brasileiro um homem que concentra em si todos estes ideários de ultranacionalismo, enaltecimento do poder militar, sobrevalorização da moral cristã conservadora e única esperança de salvação da nação destroçada para um Brasil melhor: Jair Bolsonaro.

É preocupante que muita gente se identifique com ele claramente por seus ideais fascistas e não se dê conta disso. O fascismo cresce no Brasil em meio a um momento de fragilidade política, total despreparo na educação básica escolar (que deveria ser crítica e libertadora) e alienação da população, imersa em uma bolha de informações provindas de uma mídia partidária e extremamente tendenciosa. Não há pluralidade de ideias, há somente a mesma sensação de crise e desmoronamento do Estado. Há um geral descontentamento e descrédito nas instituições públicas – descrédito na democracia! Isto é o que motiva a direita política a se manifestar, atraindo facilmente também os que não tiveram qualquer educação crítica-política.

Não há como afirmar que as manifestações de direita são uníssonas. O que se verifica é a composição de vários grupos distintos – atraídos por ideários distintos – mas que, no total, se reconhecem pela mesma exaltação de elementos de exaltação verde-amarela. Há os que vão por motivações seletivas, atribuindo toda a culpa da condução econômica no PT somente e exigem tão-somente o impeachment ou renúncia de Dilma Rousseff, não se preocupando com quem assumiria o cargo; Há os que são mais cuidadosos e acrescentam em sua revolta membros do PMDB e PSDB pela corrupção (mas não sabem sequer as demais siglas notadamente corruptas); Há os saudosos da ditadura regime militar, que clamam por golpe intervenção militar constitucional (sic) e acham que não havia qualquer corrupção na época (afinal, nada era divulgado! – se eu não via, logo não existia); e alguns poucos defensores da monarquia (risos).

Portanto, não há uma pauta única nos protestos de direita. Não há foco nítido nem um objetivo claro (protesto contra a corrupção não é pauta específica). Porém, o único elemento simbólico que os une é a crença por estarem “lutando por uma nação livre do comunismo” – curiosamente, o fascismo clássico também era extremamente contrário às aspirações socialistas e comunistas, marxistas de maneira geral. A máxima de que “nossa bandeira jamais será vermelha” e o desejo de violência e morte aos “petistas” são os principais elementos fascistas totalitários que unem republicanos reacionários, conservadores militares e monarquistas.

O fascismo é uma doença social que tende a se agravar em tempos de fragilidade política. O fascismo não respeita a democraciasistema que, por mais que seja falho e corruptível, pois é governado por homens e mulheres corruptíveis, é ainda o melhor sistema que permite alcançar patamares de justiça social e tratamento igualitário, sem deixar de se respeitar as liberdades individuais e os contextos socioculturais de cada cidadão, por meio de debates de ideias plurais e convicções distintas.

Lute por um país melhor! Lute democraticamente! Debata, discuta e repense suas opiniões. Ouça as demais opiniões e não se deixe levar pelo senso comum e posições ideológicas da imprensa. Faça críticas, não seja proselitista. Argumente com posições sólidas, estude e analise os fatos e não compre discursos prontos! Não xingue desnecessariamente! Não agrida ou ofenda quem pensa diferente de você! Fundamente suas análises em argumentos sólidos e debata racionalmente! Desta forma sim, construiremos uma democracia sólida e madura, capaz de superar crises e se fortalecer diante delas!

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